Hugo Motta encerra relações com líder do PT e agrava crise entre governo e Congresso
Presidente da Câmara expressa falta de interesse em manter diálogo com Lindbergh Farias, que critica a atitude como imatura

BRASÍLIA, DF - O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou que não deseja mais manter relações com o líder do PT na Casa, Lindbergh Farias (RJ). Em declaração à Folha de S.Paulo, Motta afirmou: "Não tenho mais interesse em ter nenhum tipo de relação com o deputado Lindbergh Farias".
Esse rompimento pode intensificar as tensões já existentes entre o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e a Câmara, especialmente em um momento em que há atritos também com o Senado. Segundo líderes da Casa próximos a Motta, a interação entre os dois parlamentares será agora apenas institucional.
Nos últimos meses, aliados de Motta criticavam a postura de Lindbergh, alegando que ele se exaltava nas discussões e tentava prejudicar a imagem da Câmara perante o público. A direção da Casa também expressou descontentamento com a atuação do deputado durante reuniões, considerando que ele agia como se fosse representante do governo, em vez de se limitar a sua função como líder da bancada do PT.
Por sua vez, Lindbergh respondeu às declarações de Motta, considerando-as uma "reação imatura". Ele afirmou que "política não é um clube de amigos" e que suas posições sempre foram claras e previsíveis. "O que tem acontecido ultimamente na Câmara é que as decisões têm sido imprevisíveis", ressaltou.
A recente discussão em torno do projeto de lei antifacção, que foi aprovado na Câmara, acentuou o desgaste entre Motta e Lindbergh, conforme afirmam aliados do presidente da Câmara. A cúpula da Casa também relatou insatisfações com a postura do governo e seus ministros durante a tramitação do projeto, alegando que eles incentivaram ataques à Câmara.
Motta escolheu o deputado Guilherme Derrite (PP-SP) como relator do projeto enviado pelo Executivo, que visa enfrentar a crise de segurança pública agravada por uma grande operação no Rio. Essa decisão desagradou membros do governo e gerou tensões, visto que Derrite é visto como um potencial adversário político de Lula nas próximas eleições.
O presidente da Câmara manifestou seu descontentamento em entrevistas e nas redes sociais nos últimos dias. Um membro do centrão comentou que o clima entre os parlamentares e o Planalto está péssimo, citando acordos não cumpridos pelo Executivo e a baixa execução orçamentária.
Embora aliados de Motta neguem um rompimento com a ministra Gleisi Hoffmann, responsável pela articulação entre Executivo e Legislativo, reconhecem que a relação entre ela e Motta também foi prejudicada.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), é visto como uma figura que busca melhorar as relações entre a cúpula da Casa e o Planalto. Desde que Motta assumiu a presidência da Câmara no início do ano, sua relação com o governo passou por altos e baixos, marcada por desconfiança mútua e episódios de descontentamento, como a derrubada de um decreto presidencial e a tramitação de medidas impopulares.